Dossiê clínico do Hospital Psiquiátrico Nossa Senhora da Luz (segunda metade do século XX)

Tipo de documento clínico: Dossiê clínico do Hospital Psiquiátrico Nossa Senhora da Luz (HPNSL), o qual inclui: “Ficha de Observação Médica”, “Ficha de Registro Geral” e diversos outros documentos.

Ano/período a que se refere o documento: segunda metade do século XX.

Instituição produtora do documento: Hospital Psiquiátrico Nossa Senhora da Luz – Curitiba/PR.

Instituição de guarda do referido documento: Santa Casa de Misericórdia de Curitiba – Serviço de Arquivamento Médico (SAME).

Comentário geral: Apesar do hospital ter sido fundado em 1903, dentre os primeiros 600 dossiês clínicos analisados em meu estudo (correspondentes a 546 pacientes diferentes), não localizei documentação da primeira metade do século XX. Em 2017, quando visitei o arquivo morto da instituição, havia mais de 20 mil envelopes arquivados. A partir do meu estudo, não foi possível avaliar a qual período exato tal documentação diz respeito, ou a quantos pacientes diferentes este montante faz referência. Ainda que seja pouco provável, deve-se manter em aberto a hipótese de que dentre os milhares de envelopes arquivados e ainda não estudados, pode vir a ser localizada documentação clínica do HNSL produzida na primeira metade do século XX.

Considerando a lógica do arquivamento, na qual cada envelope é um paciente, o arquivo morto do HNSL tem diversos tipos de documentos clínicos. Cada dossiê clínico corresponde a um paciente, sendo a identificação feita com um número (ex: 001 – NOME DA PACIENTE). Devido aos longos períodos de internamento, alguns dossiês têm mais de um envelope – sendo todos identificados com mesmo nome e número. Por questões próprias da lógica interna de arquivamento, cada dossiê (ou seja, cada paciente) tem um ou mais tipos de documento clínico arquivados. Não localizei nenhum documento clínico que possa ser referenciado como “comum a todos os pacientes”, uma vez que a própria forma da gestão documental feita naquela instituição (quando em funcionamento, mas principalmente quando foi desativada), criou lacunas de informação intransponíveis em diversos casos.

Registre-se que o documento administrativo Ficha de Registro Geral é o mais constante na documentação presente nos dossiês clínicos. Este documento pode ter anotações muito importantes de cunho clínico, tais como: a qualificação do paciente (sua idade, origem, profissão e classe dentro hospital); a data de sua admissão e de sua alta; o nome dos médicos que acompanhavam o paciente; o diagnóstico; se houve internações anteriores e, havendo, qual o diagnóstico na ocasião; se o paciente foi transferido de pavilhão dentro da instituição (o que pode fornecer informações sobre terapêutica administrada, por exemplo).

Ao que tudo indica, a documentação foi produzida – ou transcrita, reunida e reorganizada – a partir do ano de 1963. Há casos de Fichas de Registro Geral que parecem ser anteriores a esta datação supracitada, embora não seja possível ainda confirmar esta hipótese.  Caso a caso, é possível acompanhar o ano/datação da documentação do paciente a partir do próprio registro feito por cada profissional da equipe multidisciplinar que o atendeu.

Além dos dossiês clínicos, é possível localizar no arquivo do HNSL diários de enfermagem, documentações da enfermagem e do serviço social, Laudos de Exame Psiquiátrico e um documento nomeado “Ficha de Observação Médica”. Cumpre destacar ainda a existência de 5 (cinco) Livros de Registro de Doente da instituição preservados, com registros do fluxo de internação entre outubro de 1943 e fevereiro de 1969, que em alguns casos, se relacionam com a documentação clínica aqui em análise. Estes livros, contudo, estão arquivados em outro local, isto é, no Museu de História da Medicina do Paraná, o qual também faz parte da Santa Casa de Misericórdia de Curitiba.

Registre-se que diversos documentos clínicos estão com grau de deterioração avançado. Marcas de umidade, furos causados por insetos ou pelo uso de grampeador, elásticos de látex derretidos – que rompem as páginas em caso de tentativa de separação – são exemplos do que se expõe. Além disso, vários documentos clínicos arquivados são cópia carbono e, pela própria passagem do tempo, estão quase ilegíveis. Outra informação importante é a de que nem sempre a documentação dos pacientes foi devidamente preenchida ou arquivada, razão pela o arquivo do HNSL tem a marca do paradoxo: apesar de seu imenso tamanho do ponto de vista material, há uma expressiva lacuna de informações sobre os pacientes, as terapêuticas aplicadas e suas histórias de vida antes ou na instituição.

Pesquisadora: Flávia da Rosa Melo

Projeto de pesquisa de doutorado: “Durante esse longo período de sua internação”: gênero e as longas estadias no Hospital Psiquiátrico Nossa Senhora Da Luz, Curitiba (1927-1998)

Período da pesquisa: 2018- 2022

Instituição de ensino e/ou pesquisa: Programa de Pós-Graduação em História – Universidade Federal do Paraná (UFPR)

Resultados divulgados em: MELO, Flávia da Rosa. “Durante esse longo período de sua internação”: gênero e as longas estadias no Hospital Psiquiátrico Nossa Senhora Da Luz, Curitiba (1927-1998). Tese (Doutorado em História), Programa de Pós-Graduação em História, Setor de Ciências Humanas, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2022. Disponível em: https://acervodigital.ufpr.br/handle/1884/80172 

Como citar esta ficha (ABNT, 2018): MELO, Flavia de Rosa. “Dossiê clínico do Hospital Psiquiátrico Nossa Senhora da Luz (segunda metade do século XX)” In: BIBLIOTECA VIRTUAL EM HISTÓRIA DO PATRIMÔNIO CULTURAL DA SAÚDE. Vitrine do Conhecimento História dos Saberes Psi. Galeria de Documentos Clínicos. Rio de Janeiro: Depes-COC-Fiocruz, 2023.

Reprodução do Documento: Os documentos clínicos aqui citados – “Ficha de Registro Geral” e “Ficha de Observação Médica” – não são de domínio público, conforme artigo 31° da Lei 12.527 de 18 de novembro de 2011, motivo pelo qual não podem ser aqui reproduzidos sem autorização. Uma versão dos referidos documentos clínicos, produzida pela autora Flavia Melo para sua tese de doutorado, está divulgada, com autorização da instituição de guarda, em: https://acervodigital.ufpr.br/handle/1884/80172  (nota dos editores)

 

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